Para
iniciar este texto, torna-se importante ressaltar que a expressão “Complexo de
Édipo” nomeado por Freud, é uma conceito fundamental para a concepção da
metapsicologia, na verdade, é o que fundamenta a teoria psicanalítica.
Entretanto, além de Freud, a Psicanálise também teve outras contribuições
importantes que ajudaram na construção do conceito Complexo de Édipo, no caso,
a Melannie Klein, que apesar de mostrar diferenças teóricas em relação à Freud,
desenvolveu ideias inovadoras para a psicanálise dedicando-se ao
desenvolvimento das técnicas psicanalistas para o tratamento de crianças. A
mesma logo percebeu que tudo o que Freud havia descrito para os adultos em suas
teorias, também se aplicariam às crianças.
Para
Freud, Complexo de Édipo baseia-se nos momentos vivenciados pela criança em que
têm a mãe como parte de si, como objeto libidinal e principal de amor. Como
característica deste evento, um exemplo, é o momento em que a criança deseja a
mãe somente para si, sem aceitar compartilhamento ou algo parecido que corte seu
vínculo com a mesma. Até que a criança descobre que a mãe não é um ser
exclusivamente dela, porém têm seus desejos e necessidades que se distanciam
das necessidades do filho até então, como o vínculo com o marido, suas buscas
pessoais, de prazer e etc., a criança descobre que seus pais pertencem a uma
dimensão social e cultural também.
Fazendo
um paralelo entre as ideias de Freud e Klein no que diz respeito ao Complexo de
Édipo, pôde-se entender que Freud caracterizou como sendo as fantasias e
conflitos vivenciados pela criança no decorrer de seu desenvolvimento
psicossexual, representados por desejos incestuosos da criança pelo responsável
ou cuidador do sexo oposto e a rivalidade da mesma pelo responsável do mesmo
sexo.
Como bem expressa Oliveira e
Amaral (2009, apud BRITTON, 1994) o
Complexo de Édipo descrito por Freud possui três elementos essenciais, que
independe do sexo da criança. O primeiro elemento diz da necessidade de um
casal de pais que pode ser real ou simbólico. No segundo, tem-se o desejo de
morte em relação ao genitor do mesmo sexo. No terceiro e último elemento
verifica-se a existência de um sonho ou mito de realização do desejo de tomar
o lugar de um dos pais e casar-se com o outro.
Contudo, Freud relaciona a
castração como um aspecto básico para o entendimento do complexo de édipo, que
serve para ambos os sexos. Se tratando dos meninos, há a percepção de que a
menina não possui o mesmo órgão sexual que ele, então passa a desenvolver um
certo grau de medo de ser castrado, ou melhor, de ser punido pelo pai. “Isso
põe fim ao complexo de édipo, fazendo surgir na criança o superego e dirigindo
o menino à busca de outros objetos que não a mãe” (MARCHIOLLI, 2010, p. 30). Já
nas meninas prevalecem ideias de que foi castrada, e não recebeu um órgão
sexual igual ao do menino, então, começa a desenvolver sentimentos de
inferioridade em relação ao menino, além de sentimentos de culpa que surgem
após o complexo de édipo por atos errados cometidos em suas fantasias contra os
pais.
Já
Klein, “descreveu a situação edípica com foco nas fantasias primárias
(OLIVEIRA; AMARAL, 2008, p. 3)”. Acreditava diferentemente de Freud, num
complexo de Édipo precoce, que a partir dos dois anos de idade, quando as
dúvidas a respeito de sexualidade surgem na criança e são supridas, é o momento
que se inicia o desenvolvimento do complexo de Édipo.
Klein
teorizou estágios iniciais da vida da criança, que primeiramente teria como uma
posição esquizoparanóide na existência de fantasias inconscientes relacionadas
com as vivências da criança, que possibilitam experimentar momentos de
satisfação e insatisfação, representada pela existência de um seio bom e um
seio mau. Neste caso, “há a prevalência de um ego imaturo, e estes mecanismos
de divisão correspondem às primeiras defesas desse ego primitivo (OLIVEIRA;
AMARAL, 2008, p. 3)”. Após isso, a criança começa perceber que o mesmo objeto
que a traz satisfação é o mesmo que a traz insatisfação e está ligado ao seu
objeto de amor: a mãe. Então, é ai que começa “um conflito de ambivalência de sentimentos,
pois a mãe que a criança odeia e a quem direcionou seus impulsos destrutivos é
a mesma a quem direciona amor, é quem teme perder (OLIVEIRA;
AMARAL, 2008, p. 3)”. Isso
faz com que a criança vivencie ansiedades e sentimentos de culpa em relação à
mãe, e anseia concertar o mau que o fez pensar da mesma, Klein chamou isso de
posição depressiva.
Por conta disso é que Klein defende a ideia da existência do
superego na criança (que funciona da mesma forma proposta por Freud), porém deve ser considerado como uma estrutura construída durante
toda a infância, que começa pela introjeção da mãe que lhe fornece a nutrição.
Para a teoria Kleiniana, o desenvolvimento do superego começa
durante a posição depressiva.
Diante dos conceitos de
Complexo de Édipo apresentados na visão dos psicanalistas Sigmund Freud e
Melannie Klein, é possível compreender a importância deste processo para a
constituição do sujeito e da estrutura psíquica do indivíduo, é claro que, toda
essa estruturação da subjetividade só se dará a partir do êxito deste processo,
ou melhor, da dissolução do Complexo de Édipo. Oliveira e Amaral (2009, apud
MOREIRA, 2014) destacam, “a
importância da passagem pelo Édipo e sua condição estruturante nos remete a
pensar a constituição do sujeito a partir da incontestável presença do outro”.
Já que, é na passagem do
complexo de Édipo que se constrói o sujeito e suas subjetividades, pode-se afirmar
que é neste momento que haverá a formação da sexualidade do indivíduo, onde se
situa como algo decisivo. Além disso, é importante ressaltar que nenhum ser
humano escapa do complexo de Édipo, a forma como este percorre o processo é que
irá marcar suas experiências posteriores, na vida adulta. Oliveira e Amaral
(2009) deixa bem claro, “a
dissolução do Complexo
de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na
orientação do desejo humano”.
Freud enfatizou a questão da diferença entre “sexo” e
“sexualidade”, justamente por considerar que a sexualidade humana estar para
além de uma dimensão puramente biológica, mas que representa algo natural,
busca de prazer e gratificação. Se tratando de sexualidade infantil não é diferente,
a criança frequentemente em diversas situações vai estar em busca de satisfação
de suas ansiedades, dúvidas, desejos e necessidades. A sexualidade é um fator
meramente importante, e a grande responsável de tornar o ser humano um sujeito
em constante movimento.
Para concluir, é indispensável falar que a castração
denominada por Freud, é um fator que contribui bastante para o desenvolvimento sexual
e afetivo da criança, pois a partir dela haverá o reconhecimento de que não é o
centro das atenções da mãe e/ou cuidador, logo, as possibilidades de reconhecimento
do outro surgirão, e começarão aparecer comportamentos e expressões sociais
próprias.
REFERÊNCIAS
MARCHIOLLI,
Priscila Toscano de Oliveira. Análise do
conceito Complexo de Édipo em Melanie Klein e D. W. Winnicott. Campinas,
2010. 131 p. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de
Campinas - PUC, Centro de Ciência da Vida, Pós Graduação em Psicologia, 2010.
OLIVEIRA,
Thaís Utsch Vieira; AMARAL, Thaísa Vilela Fonseca. O Complexo de Édipo: Uma
comparação entre Melanie Klein e Sigmund Freud. Mosaico estudos em Psicologia, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p. 1-8,
2009.
Explanação perfeita e bastante objetiva.
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